A Expedição Serigy vai a Canudos.


Em junho de 1893, os peregrinos de Conselheiro assentavam-se no Belo Monte, ás margens do Rio Sagrado (Vaza-Barris). No Arraial eles plantavam, colhiam, criavam, edificavam e rezavam; livres de impostos e dos fazendeiros. Canudos era um pedaço de chão bem-aventurado. Tinha de tudo, até rapadura do Cariri. O exercido brasileiro declarou guerra aos peregrinos, e entre novembro de 1896 e outubro de 1897, praticou um lamentável genocídio contra pobres sertanejos. Após três meses finais de bombardeios intensos, derrotaram Canudos. A chegada dos prisioneiros foi comovedora.
Permitam-me citar Euclides da Cunha, sobre os que sobraram, todos fuzilados no dia seguinte:
“Nem um rosto viril, nem um braço capaz de suspender uma arma, nem um peito resfolegante de campeador domado: mulheres, sem número de mulheres, velhas espectrais, moças envelhecidas, velhas e moças indistintas na mesma fealdade, escaveiradas e sujas, filhos escanchados nos quadris desnalgados, filhos encarapitados às costas, filhos suspensos aos peitos murchos, filhos afastados pelos braços, passando; crianças, sem número de crianças; velhos, sem número de velhos; raros homens, enfermos opilados, faces túmidas e mortas, de cera, bustos dobrados, andar cambaleante. “
“Custava-lhes admitir que toda aquela gente inútil e frágil saísse tão numerosa ainda dos casebres bombardeados durante três meses. Contemplando-lhes os rostos baços, os arcabouços esmirrados e sujos, cujos mulambos em tiras não encobriam lanhos, escaras e escalavros — a vitória tão longamente apetecida decaía de súbito. Repugnava aquele triunfo. Envergonhava. “
“Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até ao esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente 5 mil soldados. ”
A Expedição Serigy retornará a Canudos no próximo dia 05 de outubro, quinta-feira, 120 anos do fim do massacre, para referenciar os conselheiristas. Uma guerra estranha, onde os derrotados comemoram e os vencedores procuram esquecer. A nova Canudos organizou-se no entorno do barramento do mesmo Vaza-Barris (açude de Cocorobó), a universidade da Bahia construiu um Parque no antigo cenário da guerra, e a gente sertaneja festeja Antônio Conselheiro.
Antônio Samarone.

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